Vidal Pedroso de Faria
A responsabilidade das vacas em lactação é muito grande. Isso porque, na maioria das fazendas de todo o mundo, de 90 a 95% da receita são provenientes da venda de leite. A vaca deve produzir para pagar despesas relacionadas com a produção, manutenção de animais que não geram receita, gastos com investimentos, e também garantir sobras para cobrir depreciações, remunerar o empresário, o capital empatado e possibilitar lucro.
Mesmo nas fazendas especializadas em vendas de reprodutores de alto padrão, a participação do leite na formação da receita é considerável, e sua contribuição é importante para criar condições favoráveis à manutenção do sistema. As vacas lactantes devem garantir recursos suficientes para pagar todas as despesas e possibilitar um fluxo de caixa positivo, como se observa nas fazendas de produção de leite bem conduzidas, para facilitar a administração e garantir um resultado satisfatório da atividade.
O homem precisa oferecer à vaca condições favoráveis para que possa cumprir sua importante missão. A fim de produzir as matrizes, devem parir, e por isso é necessário que o manejo seja correto, para que tenham nutrição adequada, não estejam submetidas a estresse e se mantenham livres de doenças e parasitos.
Planejamento criterioso e controle constante e efetivo dos fatores que interferem no processo reprodutivo devem ser implantados na fazenda para que se tenha uma condição realista, a fim de incrementar a produção de leite. A contribuição mais efetiva da vaca para a geração de receita ocorre quando o intervalo entre partos é de 12 meses e o período de lactação é de 10 meses, porque nessa situação a produção de leite por dia de intervalo entre partos se aproxima da produção por dia de lactação.
A receita da produção de leite deve cobrir também o período em que a vaca está seca porque as despesas da fazenda não cessam; por isso, o cálculo da contribuição efetiva é feito dividindo-se a produção pelo intervalo entre dois partos. Para saber a capacidade real de geração de receita do rebanho basta dividir a produção pelo total de vacas (secas e em lactação), a fim de se obter o índice de produção por vaca do rebanho, que é a estimativa da produção por dia de intervalo entre partos e uma avaliação correta da quantidade de leite disponível para as despesas.
A capacidade de prover recursos para o sistema de produção logicamente depende do maior número possível de vacas em lactação por ano. Quando o intervalo entre partos do rebanho é de 12 meses e o período de lactação é de 10 meses, 83% das vacas darão leite durante o ano.
Se as matrizes não apresentarem persistência de produção e derem leite por oito meses, como acontece com frequência com gado não especializado, somente 66% produzirão durante o ano e, assim, a capacidade de gerar receita seria baixa e as vacas lactantes trabalhariam para sustentar um volume muito grande de animais improdutivos porque o número de vacas secas aumentará consideravelmente.
Os custos de manutenção são altos em sistemas de produção de leite. A situação fica bem mais complicada quando se trabalha com matrizes que apresentam baixa persistência de produção e o intervalo entre partos é ampliado, como ocorre com frequência nas fazendas leiteiras do Brasil, trazendo como resultado somente 60% das matrizes em lactação durante o ano, o que reduz consideravelmente a disponibilidade de recursos para pagamento das despesas do sistema de produção. Esta situação ocorre quando o rebanho é constituído por gado cruzado sem características de especialização, resultando em sistemas inadequados para bons resultados econômicos.
Se as vacas são responsáveis por quase toda receita da fazenda, deve-se manter no rebanho uma elevada proporção de matrizes com persistência de produção para que seja possível trabalhar com uma quantidade elevada de animais em lactação por ano. Fazendo-se o cálculo do número necessário de novilhas para uma reposição satisfatória, se chega à conclusão de que no rebanho as vacas devem perfazer pelo menos 60% do total de animais e, com manejo adequado, um mínimo de 50% dos bovinos mantidos na fazenda deve produzir durante o ano.
Surpreendentemente, levantamentos sobre composição dos rebanhos brasileiros indicam que as vacas perfazem somente de 30% a 40% e como a porcentagem de vacas em lactação não é alta, somente 20% a 30% do rebanho efetivamente produz leite, o que leva a uma pequena disponibilidade de recursos financeiros para fazer frente às despesas da fazenda. É aí que a atividade leiteira passa a ter fama de não ser um bom negocio sob o ponto de vista econômico.
Reconhecer que as vacas em lactação são responsáveis pela geração de receita, pagamento das despesas e pelo sucesso da atividade cria a consciência de que é necessário estabelecer condições para que um maior número possível delas participe da difícil tarefa de produzir. A lactação é uma atividade esgotante, que exige muito do animal e, por isso, atenção especial deve ser dispensada à vaca que produz leite.
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