sábado, 6 de julho de 2013

Leite e a erradicação da pobreza


Olá Amigo(a) Pecuarista,
Leite e a erradicação da pobreza

 
Vidal Pedroso de Faria
Muitos proprietários de glebas rurais vivem em estado de pobreza porque não são capazes de utilizar adequadamente seus recursos produtivos, como solo e rebanho, para produção de leite e obtenção de renda suficiente, com a finalidade de pagar despesas e possibilitar sobra para investimentos ou melhoria das condições de vida.
Geralmente, as áreas em que trabalham foram herdadas e, como no passado as famílias eram muito grandes, os lotes destinados a cada membro se tornaram pequenos, e a possibilidade de sobrevivência que existira na época dos pais ou avós desaparece após a partilha.
Solos de baixa fertilidade natural e terras exauridas por atividades extrativas conduzidas por longos períodos contribuem também para dificultar a exploração adequada do solo que, muitas vezes, não garante recursos nem para a sobrevivência da família. Some-se a este cenário a baixa escolaridade e o desconhecimento total dos fundamentos científicos e gerenciais da agropecuária para revelar, então, o panorama de agricultura de subsistência, pobreza e falta de visão para dias melhores no futuro.
São assim encontrados todos os ingredientes para o estabelecimento do ciclo da pobreza, difícil de ser quebrado porque existem barreiras culturais que dificultam ou impedem a introdução de conceitos corretos de tecnologia por meio de princípios científicos para estabelecimento de atividades agropecuárias com bons resultados econômicos.
Esses pequenos produtores de leite vivem desanimados porque não são capazes de visualizar outra atividade agropecuária para a propriedade tocada com conceitos tradicionais, não possuem capital para promover melhorias e não são amparados por programas bem-estruturados de extensão rural.
Algumas vezes, estão inseridos em regiões que não apresentam alternativas para a atividade rural, seja por causa do isolamento, de condições climáticas desfavoráveis para agricultura, topografia acidentada e também pelo desconhecimento de outras possibilidades. São geralmente menosprezados, pois se comenta com frequência a inviabilidade dos pequenos na agricultura moderna e que estes desaparecerão do cenário agrícola nacional em pouco tempo, porque esta tendência foi observada em todos os países do chamado mundo desenvolvido.
Mas apesar disso tudo, continuam vivendo na dependência de um rebanho bovino desqualificado para a produção de leite, algumas vezes, produzindo queijo e vendendo esporadicamente algumas cabeças para reforçar a renda, que é sempre muito pequena e insuficiente para possibilitar melhor padrão de vida.
O interessante é que, na análise pessimista sobre pequenos produtores, não são incluídos os que trabalham em áreas bastante restritas, desenvolvendo horticultura para o abastecimento dos grandes aglomerados urbanos. O argumento para a exclusão é que apresentam outro perfil e vivem outra realidade, obtendo resultados econômicos bastante satisfatórios com a exploração intensiva do solo, utilizando para tanto conceitos universais de tecnologia. Para eles, o tamanho da propriedade não é um fator limitante, já que conseguem produtividades altas por hectare e, portanto, renda elevada por área explorada.
Nenhum horticultor tenta produzir com propostas extrativistas, ou seja, sem correção do solo, adubações, irrigação, controle de pragas e doenças e uso de sementes e mudas selecionadas. A atividade exige planejamento, controle criterioso dos fatores produtivos, medidas para evitar efeitos desfavoráveis do clima e, sobretudo, trabalho duro com conhecimento do que está sendo feito. Se o mesmo conceito fosse empregado para a produção de leite o mesmo resultado seria alcançado?
Dados obtidos em todo o território nacional permitem afirmar que a produção intensificada de leite introduzida em pequenas propriedades rurais propicia resultados econômicos surpreendentes. Trabalhos de orientação técnica priorizando manipulação de fatores produtivos permitem intensificar o uso do solo por meio de pastejo rotacionado, correção do solo e adubação para aumento da produção forrageira.
Como as áreas a serem trabalhadas são pequenas, os recursos financeiros necessários para alavancar a produção podem ser obtidos com criatividade, segurança no equacionamento das necessidades e racionalidade na proposta de produção de leite. Num estudo envolvendo fazendas pequenas tocadas pela família, ficou caracterizada a possibilidade de obtenção de fluxos de caixa/ha entre R$ 3.000 a R$ 8.000, mostrando, assim, uma surpreendente disponibilidade de recursos depois de pagar todas as contas.
A produção de leite deveria ser considerada prioritária para a erradicação da pobreza no meio rural. Se recursos financeiros fossem alocados para assistência técnica, hoje, disponível e capacitada, o resultado obtido com inúmeras fazendas espalhadas pelo País poderia ser ampliado para melhoria do padrão de vida de pequenos produtores, contribuindo também para resgatar a credibilidade da produção leiteira como atividade economicamente viável e interessante.

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